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domingo, 31 de maio de 2009

Resenha "Leite derramado", de Chico Buarque


Eis um livro que recomendo, a leitura é um deleite e nos proporciona a exemplificação do assunto trabalhado no TP4.

Editora: Companhia das Letras
Autor: CHICO BUARQUE
Origem: Nacional
Ano: 2009
Edição: 1
Número de páginas: 200






Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual.

Com uma narrativa primorosa, concisa e empolgante, o narrador-personagem cria um clima de suspense que vai se perpetuando à medida que a narrativa progride. Chico Buarque opta mais uma vez um narrador em primeira pessoa para conduzir sua história. Eulálio é o retrato de uma “elite em crise”, vivendo do sobrenome que tem e perdendo cada vez mais espaço na sociedade de alto escalão. Por se tratar da narrativa de um moribundo, muitas personagens não têm descrições completas e todas são risíveis (em vista o que é narrado).

O que importa no romance é como construir o personagem principal através do que ele diz sobre o ambiente, sobre o passado, sobre todos e pelo pouco do que fala de si mesmo (exaltando traços de sua personalidade, muitas vezes se torna contraditório em suas opiniões, tentando mostrar humildade, mas apenas exalando arrogância). Os sentimentos de Eulálio são rasos, somente os descritos com uma cor alaranjada é que são mais profundos – e verdadeiros. “Nem parei para pensar de onde vinha a minha raiva repentina, só senti que era alaranjada a raiva cega que tive da alegria dela.”

De linguagem refinada, irônica, paradoxal e biográfica, temos uma obra que passará pelos olhos de leitores recordando Machado de Assis com seu Brás Cubas e com Bentinho,e João Ubaldo Ribeiro com seu Sargento Getúlio. Para nós do Gestar II, que estamos nos debruçando sobre tipos textuais, a leitura desse livro é um excelente material de pesquisa, no que concerne, sobretudo, a intertextualidade e a trama lingüística.

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